sexta-feira, 3 de julho de 2009

Visitas

“Pêêêêdroooooo, acorda. Vem aqui ao cockpit.” Ainda atordoado de sono, me questionei se teria mesmo alguém me chamando. Mas logo o Sérgio gritou novamente o meu nome e, num pulo, me levantei, espreitei para o cockpit e o fitei com ar inquisitivo e pouco amistoso. Dormia há menos de uma hora, após ter levantado de manhã bem cedo para levantar âncora e deixar Abrolhos. “É o turno dele, porque raio está me chamando?” - pensei. O arquipélago ainda estava bem visível, a umas escassas seis milhas à nossa popa. “Chegaram.” - continuou. “Chegaram? Quem, o quê, como, quando?” – continuei pensando numa letargia sonolenta, achando ser outra tentativa dele me sacanear. “Você falou que mandou o e-mail. Então... aí estão elas.” Fez-se luz, antes mesmo de sair disparado da cabine e olhar na direção da proa. Eis, uns 300 metros à nossa frente, quatro borrifos em alternada sintonia.
Dias antes me queixara que em cerca de oito mil milhas náuticas navegadas, algumas das quais pelo Arquipélago dos Açores, nunca tivera a sorte de avistar baleias. Ele me sugeriu que mandasse um e-mail a combinar o encontro, que elas viriam.
Lentamente, aproximámo-nos do espetáculo deslumbrante que nos era proporcionado. Indescritível! Rolavam, chapinhavam as enormes nadadeiras peitorais, mergulhavam a pique exibindo a cauda, emergiam, expiravam... Puro exibicionismo, desprezando a nossa presença a escassos 10 metros.
Poucas horas depois, outro grupo nadava bem à superfície, na nossa direção, em pura rota de colisão, insistindo em não se desviar. Como se o oceano fosse pequeno. Como se todo ele fosse sua propriedade. Se marimbando totalmente para as nossas intenções. “Vai querer encarar?” - perguntou o Sérgio enquanto aumentava a rotação do motor e virava o leme, desviando o nosso rumo do caminho de suas excelências. O que para essas “pequenas criaturas” pode ser apenas um esfregar as costas, até útil para tirar a craca, para o nosso belo Dufour 405 pode significar um estrago indesejável.
Com o cair da noite entrou finalmente o muito esperado vento de nordeste. Felizes, desligámos o motor, afinámos as velas e curtimos o silêncio do mar chapinhando no casco. Com vento de 12 nós pela alheta, o Temüjin deslizava pelas ondas a uns modestos 8 nós.

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