Fizemos uma rápida escala em Cabo Frio com o primordial propósito de embarcar uma certa figura que, mal pisou no convés, bradou de peito inchado: “Daqui até Ilhabela, só à vela. Não quero nem ouvir alguém pensar em ligar o motor.” Como que se fosse senhor absoluto dos ventos e mares, encomendando as condições que desejaria. E como se os deuses Eolo e Neptuno lhe devessem obediêcia. Bem... o certo é que fomos brindados com os melhores ventos e marés que navegámos desde que embarquei, há um mês atrás em Salvador. Rumo direto ao destino, de vento em popa e surfando as ondas a uma média de nove nós, fazendo picos frequentes de doze e, atingindo um máximo de catorze e meio. Impressionante!
O Lucius Khan ainda teve a lata de afirmar cheio de confiança e tranquilidade: “Falei que seria na vela.” Talvez nem tenha dado conta que estava fazendo troça dos miseráveis que, há várias centenas de milhas, vinham sendo presenteados com o desconforto do vento na cara, o bater seco do casco a cada onda que pulava e a companhia agonizante do ruído do motor. Cheguei a questionar se o próprio Gengis intercede junto dos deuses a favor do seu protegido, visto este ainda não ter verdadeiramente “saboreado o doce balanço” de navegar contra o vento. Constou-me que a travessia de Lisboa até Fernando de Noronha foi sempre acompanhada de ventos favoráveis. Os britânicos, talvez com ironia ou alguma arrogância, dizem: “Gentlemen don't sail upwind.” Logo te calha. Não perdes pela demora. Nesse momento, vou querer te ouvir gabar da sorte, com o mesmo orgulho.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
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