sexta-feira, 3 de julho de 2009

Itacaré

Para nosso descontentamento, o vento não rondou para Leste, conforme previsto. Voltou a soprar de Sul com bastante intensidade, trazendo algum desconforto à nossa viagem. Por outro lado, agradou-me poder verificar o comportamento do Dufour 405 Grand'Large no contra-vento. Excelente! Orça bem demais, com boa velocidade e sem adernar em demasia. Um desempenho que equilibra muito bem o melhor de dois mundos: a velocidade e ângulo de orça de um veleiro de regata com o conforto e estabilidade de um veleiro de cruzeiro.
Testado o veleiro no contra-vento, ligámos o motor (insistência e pressa do Sérgio) e navegámos cerca de 90 milhas, totalmente contra o vento mas num rumo direto, até Itacaré, onde estava já prevista uma paragem curta.
Entrar na foz do Rio de Contas, local de fundeio, tem a sua manha. Convém conhecer, estar munido de cartografia bem precisa e detalhada, contar com correntes fortes e, essencialmente, entrar ou sair no estofo da maré alta. Depois de fundeado, as condições são más. A correnteza é muito forte, permanente e difícil de vencer no bote auxiliar. Convém ter um motor fora-de-bordo de uns 8 HP. O nosso teria 5 HP, caso tivesse funcionado. Torrei a paciência de tanto remar e contornar a correnteza para ir do barco para terra e vice-versa. E ainda tive que trazer, num bote de 2 metros de comprimento, mais de 500 litros de água doce e 200 de diesel.
Um pequeno pier flutuante para uma dúzia de barcos seria bom demais. Mas já nem pedia tanto. Apenas um pequeno barco ou plataforma flutuante que, de alguma forma, pudesse prestar esse serviço de abastecimento de água e combustível. Isso seria um ótimo contributo para o crescimento do turismo náutico de Itacaré. Haja vontade política. Eliminem-se as burocracias ocas e retardantes que frustram e eliminam ímpetos empreendedores.
Apesar dessas dificuldades para os navegantes, a cidade é muito agradável, pequena, tranquila, bem bahiana, as pessoas são simpáticas. A actividade económica da cidade, totalmente voltada para o turismo e pequenos serviços, antes das 17 horas é praticamente inexistente. "Mais cedo não faz sentido” - diziam-me - "pois todo o mundo, locais e turistas, está na praia ou praticando diversas actividades do rafting ao parapente". Itacaré é também famosa pela tradição e boas condições de surfe. O melhor de tudo são as praias fabulosas, algumas bem selvagens e apenas acessíveis por trilha.
A paragem acabou por se prolongar mais que o esperado, novamente devido à meteorologia desfavorável. Foi boa. Contudo, de barco, creio que não regressarei enquanto não oferecerem melhores condições.

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